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O comunista que enfrenta o petróleo no mar e o descaso de Bolsonaro

Entrevista de José Bertotti e gestores públicos à imprensa, no Palácio do Campo das Princesas. Foto: Divulgação

Na matéria do jornalista André Cintra, publicada no Portal Vermelho, um relato das ações de José Bertotti, e o trabalho do Governo de Pernambuco para enfrentar a crise do vazamento de petróleo no litoral do Nordeste.

Diante do vazamento de petróleo no Nordeste – um dos maiores desastres ambientais no País –, duas reações oficiais se destacaram. De um lado, há a omissão do governo Jair Bolsonaro (PSL), que sequer acionou o Plano Nacional de Contingência (PNC). Em contrapartida, sobressai a resposta dos governantes da região, com o apoio de prefeituras, ONGs e sociedade civil. É nesse segundo ponto que se evidencia a competente atuação de José Bertotti, um gestor público que é membro do PCdoB.

Os estados não têm todas as atribuições necessárias para enfrentar uma tragédia ambiental dessa magnitude. Mas os governadores e seus gestores podem organizar ações que reduzam danos, alertem a população e subsidiem o trabalho federal. Eis o que tem feito o governo de Pernambuco, sob a liderança de Bertotti, que é secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade da gestão Paulo Câmara (PSB-PE).

Uma das estratégias de sua pasta, a Semas, é identificar manchas de petróleo com a máxima antecedência possível, a tempo de evitar que o óleo chegue à faixa de areia. Ao mesmo tempo, o governo pernambucano aposta no trabalho integrado com outros estados da região – e não deixa de cobrar a administração federal. Segundo Bertotti, é dever do governo Bolsonaro acionar o PNC, identificar a fonte dos vazamentos e, acima de tudo, “tomar a frente” dos esforços coordenados entre os entes da Federação.

“Essa ação precisa ser coordenada e dirigida pelo governo federal, não pode ser demanda dos estados. Isso está muito solto”, declarou Bertotti à BBC, numa crítica aberta à “ausência de ação federal”. O secretário lembra: foram os próprios estados que tiveram a iniciativa de promover uma reunião entre os nove governos da região e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, ligado ao governo federal).

Já em entrevista ao Estúdio Gaúcha, ele reiterou as críticas ao descaso do Planalto. “Existe um plano nacional de contenção de vazamento de óleo que precisa ser conduzido pelo governo federal. No entanto, os recursos, barcos para coleta, boias de contenção, tudo isso tem sido feito com muita dificuldade”, disse. “É preciso identificar a origem da fonte poluidora imediatamente.”

Uma das últimas batalhas foi escancarada neste domingo (20). O governo Paulo Câmara tornou pública sua insatisfação com o Ibama – que, num “jogo-de-empurra”, tenta burocratizar a liberação de 3,5 quilômetros de boias para conter o derramamento de óleo nas praias pernambucanas. A jornalistas, sem dar detalhes ou prazos, Olivaldi Azevedo, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, contestou a eficiência das boias e disse que o governo Bolsonaro está atrás de uma “tecnologia diferente”.

Pois Bertotti não passou recibo. “Se as barreiras não são 100% eficientes, elas podem ao menos minorar o problema. Vamos continuar perseguindo a colocação das boias”, afirmou ao Estadão. “Se elas não conseguem conter todo o óleo, ao menos reduzem a quantidade de resíduo que chega às praias. Queremos que sejam colocadas em todas as portas de estuário”.

O governo Bolsonaro se recusa até a fornecer “equipamentos de proteção individual” (EPI) para os voluntários que ajudam na limpeza das praias e no descarte de resíduos. Com exceção das boias, conquistadas por medida judicial, Pernambuco não recebeu da União nem recursos, nem equipamentos. “A Praia de Carneiros está sem barreira, mas tem redes de pesca que foram colocadas para evitar que esse óleo volte a chegar à praia que foi limpa em menos de três horas por 200 pessoas. Até agora não recebemos nada do governo federal. É tudo recurso do estado”, afirmou Bertotti.

Nas redes

O secretário comunista tem usado as redes sociais para prestar contas de ações e, ao mesmo tempo, denunciar a administração Bolsonaro. “Hoje retiramos 20 toneladas e coletamos 600 quilos de óleo do alto mar nas cidades de Tamandaré, Barreiros e Sirinhaém. A solidariedade da população e a mobilização foram essenciais para evitar maiores danos do óleo no nosso litoral!”, registrou ele na sexta-feira (18), em post que incluiu trecho de uma entrevista coletiva.

No sábado (19), Bertotti divulgou um vídeo de sua secretaria com um balanço dos trabalhos do dia anterior: “Mais de 200 servidores do @governope e de diversas prefeituras e instituições públicas participaram destas ações, junto com dezenas de voluntários”. Os tuítes seguintes citam a gestão Bolsonaro: “É preciso que o Governo Federal assuma sua responsabilidade, execute o Plano Nacional de Contingência, além de identificar a fonte poluidora”, reforçou.

O governador Paulo Câmara e o secretário José Bertotti, na sala de situação montada pelo governo estadual para monitorar o vazamento de óleo nas praias pernambucanas. Foto: Divulgação

Ao compartilhar matéria da Folha de S.Paulo sobre a extinção de dois comitês previstos no PNC, Bertotti sintetizou: “Por parte do Governo federal, descaso e omissão. Por parte do Governo de Pernambuco, unindo prefeituras e voluntários, ação e resultados”. Mais tarde, outra prestação de contas: “Estive em Maracaípe com o comitê de gestão de crise, da Prefeitura de Ipojuca e sociedade civil. Unidos @governope, municípios e voluntários enfrentam o crime ambiental”. O resumo do dia veio à noite: “Retiramos mais de 30 toneladas de óleo do litoral pernambucano neste sábado (19), em sete praias, totalizando 50 toneladas coletadas nos últimos dois dias”.

Não houve repouso no domingo (20), conforme outra série de tweets e posts, acompanhados com a hashtag #SeChegarAGenteLimpa. Ao sobrevoar o litoral, ele avistou manchas de óleo no Cabo de Santo Agostinho, próximo a Suape. “A mancha já está sendo interceptada por um navio cedido pelo Porto do Recife”, escreveu Bertotti, que listou mais ações: “Visualizamos também as barreiras de contenção, colocadas nos últimos dias pelo Governo de Pernambuco no estuário dos rios Persinunga, Una, Serinhaém e praia da Boca da Barra em Tamandaré, e também próximo a Maracaípe. Foi iniciada a colocação de barreira na boca do Rio Formoso.”

Um dos posts de Bertotti sintetiza a sensação geral entre os pernambucanos: “O @governope continua seu trabalho de mobilizar a população, ao lado das prefeituras e da Defesa Civil, para continuarmos a combater o crime ambiental. E repito: aguardamos que o omisso Governo Federal execute o Plano Nacional de Contingência, e identifique a fonte da poluição”.

O secretário

Nascido em Caxias do Sul (RS), José Antônio Bertotti Júnior tem 50 anos. Ex-líder estudantil e ex-dirigente da UNE (União Nacional dos Estudantes), é formado em Química Industrial pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com mestrado em Engenharia de Produção na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Professor do Centro Universitário dos Guararapes, foi secretário de Ciência e Tecnologia tanto da Prefeitura do Recife quanto do governo estadual, além de secretário municipal de Assistência Social. Até este ano, era presidente municipal do PCdoB Recife – função da qual se licenciou para assumir a Semas.

Por André Cintra

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José Bertotti

José Bertotti

José Bertotti é pesquisador em inovação do Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (I-LITPEG) da UFPE, professor, formado em Química Industrial pela UFRGS, com mestrado em Engenharia de Produção pela UFPE. Foi secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco; secretário de Assistência Social do Recife; secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Recife; secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco; e diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE). Coordenou a Representação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação no Nordeste. É da direção estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB-PE).